Estrela na ponta do abismo


É engraçado como o tempo é estranho. Tem horas que são mais escuras que outras. Tem horas que o tempo, numa brincadeira de mal gosto, custa a passar. Tem horas que o tempo fica tão palpável que me rasga. Parece uma metáfora, mas não é. Eu sinto essas horas me rasgando o corpo. Não sai sangue, mas transborda dor. Essas horas são longas e dolorosas e o tempo não vem sozinho. Às vezes ele traz junto consigo a insegurança. Ela não vem sempre, mas tem vezes que ela vem passar uns dias do meu lado. Se as horas são longas, os dias com ela parecem intermináveis. A insegurança faz questão de me seguir como uma sombra. Ela me lembra da minha escuridão. Sabe... Eu já tentei fazer algo nesses momentos. Tentar mudar alguma coisa. Tentei olhar para o outro lado, tentei espairecer, tentei me distrair, nada que fiz ajudou de verdade. Agora, eu tento conversar com a minha escuridão, com a minha sombra, com a minha insegurança. Tem dias que falo, tem dias que ouço, tem dias que só há silêncio. Tem dias que me deparo com o abismo que sou. Nesses dias fico na beira de mim em desequilíbrio. Então a vertigem me atinge. Me perco em mim. Não sei se estou na beira ou no fundo do abismo que sou. Nessas horas mais escuras eu só queria um apoio. Uma ajuda. Uma luz. Tem hora que ela vem, outras horas só há solidão. Mesmo assim, eu não quero deixar de encarar minha sombra. Nem quero ignorar o abismo que sou. O tempo da ignorância já se foi. Agora é a hora de encarar minha escuridão de frente e quem sabe achar uma luz. Lá em cima, no céu. Uma estrela me cairia bem. Isso! Uma luz para me guiar nessa jornada noturna me seria a salvação. Um brilho constante que iluminasse minhas dúvidas e me levasse para além. Tem horas que uma estrela era tudo o que eu queria. Ela ainda não está lá no céu e eu já não posso ficar aqui. Então encaro minha escuridão e me vou. Com ou sem estrela, com ou sem luz, com ou sem equilíbrio, não posso mais ficar aqui. Chegou a hora de atravessar o abismo que sou.

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