Auto-referência



Quero ser sincero. Não sei escrever. Só sei falar. Sei apenas desabafar. Esses textos não são nada além disso. Desabafos, pensamentos, exposições, vivências, relatos. É isso. Não falo de ninguém além de mim. Não imagino situações hipotéticas. Não invento discussões. Não projeto sentimentos imaginários. Não tenho eu lírico. Não tento ser amplo. Não quero ser amplo. Não sou poeta. Não quero. Ou melhor, não consigo. Tudo aqui sou eu. Cada palavra, erro, virgula, intenção, frase mal escrita, alusão, tudo. Não sei fazer poesia. Só sei falar de mim. Esse reduto é apenas isso. Um lugar onde deixo um pouco de mim. Deixo um pouco do que vejo quando estou sozinho. Quando consigo me olhar, porque tem vezes não consigo. Isto é apenas o que é. Aquilo que batizei tantos anos atrás por uma brincadeira. Não imaginava que me acompanharia por tanto tempo. Que me seria tão importante. Tão necessário. E já estava tudo ali. No nome. Um livro dos dias. Dos meus dias. Um pequeno diário das minhas dores, amores, anseios, desejo, medos. Tudo aqui é verdade. Tudo é real. A realidade tem muitas possibilidades. Pode não haver constância, mas é real. Pode não haver uma pretensão, mas é real. Pode não haver um objetivo, mas é real. Se escrevi essas palavras é porque em um instante fui atravessado, afetado, bagunçado. Sou muita bagunça e as vezes tento por ordem naquilo que sou. No que sinto. Eu tento me entender. Quando não consigo transbordo essas palavras aqui. Porque já não consigo manter em mim tudo o que sinto. Eu sinto muito. Por tudo. Não é uma explicação, justificativa ou um pedido de desculpas, mas poderia ser. Eu sinto muito. Na verdade, é só o que é. As coisas são o que são. Nem mais nem menos. Este livro imaterial é a justa medida do que me transborda e consigo pôr em ordem. Antes que eu me afogue em mim.

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