Dói. Esses pensamentos doem tão
concretamente que nem parecem ser só coisa da minha cabeça. É triste chegar
nessa conclusão. Ainda mais sozinho. Numa manhã de domingo enquanto limpa-se a
casa. O corpo tá cansado e tu só senta na sombra um pouquinho pra sentir o
tempo passar enquanto respira fundo. E num soco surge o pensamento. Não só
pensamento, mas uma conclusão, uma percepção, um entendimento, um não sei ao
certo o que, um algo que chegou. E foi como se surgisse um luminoso neon
vermelho dentro da minha cabeça e nesse impulso da chegada veio também o som da
minha voz. Como seu lesse ou transcrevesse meu pensamento em vibração, em fala,
em algo concreto. Ali sentado, num mero descanso, eu transformei pensamento em
palavra, imagem em som. E assim que me ouvi percebi toda a verdade contida no
que eu havia acabado de falar. Uma verdade maturada ao longo dos meses ou mesmo
anos de vivência. É como se sempre estivesse ali e você só não tinha coragem de
olhar. Naquele momento foi como se um quebra-cabeça começasse a fazer outro
imagem com as mesmas peças. Uma imagem mais certa, mais exata. Ou então como se
o desenho na folha fosse invertido e ao invés de ver uma senhora, você visse um
cavalo ou um moça ou a imagem nítida da tristeza. Sentado na sombra da casa,
olhando o céu azul, ouvindo verdades de si, o meu coração afundou. Despencou.
Caiu uma queda infindável. Os demais pensamentos se esvaem, se desmancham, se
perdem. Só resta o neon vermelho iluminado. Aquela verdade tão simples e dura e
completamente cruel. Eu não me amo.
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