O ser que sou



As palavras me escapam
Os sentidos também
Pensamentos perdidos num emaranhado de sentimentos
Parece que desponto em desejos de paz
Talvez desejos de fuga
Talvez seja só cansaço
Peso
Uma pedra no meio de um formigueiro
Cada um que passa parece saber de algo
Tem direção
Sabe onde ir e o que fazer
Eu permaneço no caminho
Pétreo
Quem sabe eu deva me enquadrar nessa rotina
Estática
Mas meus pensamentos são agudos demais
Tenho pontas soltas
Tenho picos de imensidão
Ou de ócio, já não sinto a diferença
Por vezes que fico as voltas com os desejos
Me enrolo nos anseios
E não planto nada
Estou solo infértil
Nada se produz
Nada significo
Me falta definição
Pareço um quebra-cabeças velho
Já não formo mais o desenho completo
Eu perdi peças durante essa brincadeira
Quem me olha pode ter uma noção do desenho completo
Sabe as linhas que traço, as cores que me compõe
Mas não estou completo
Há vazios que me preenchem
São buracos que a chuva dos olhos criou no caminho que sou
Caminho esburacado
Solo estéril
Pedra imóvel

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