Eu fugi da minha
escrita
Tive medo das
palavras
Tive medo do que elas
iriam revelar
Era um medo bem
específico
Medo do que o coração
iria escrever
Quando as palavras
começam a sair
É como se as
comportas de uma represa fossem abertas
Desagua alma, dores,
amores, suores
Tenho medo do que
virá
Tenho medo de
enfrentar mais do que consigo lidar no momento.
Então darei passos
lentos, sem poesia.
Porque ela é doce e
dura e cruel em sua medida exata.
Troco poesia por
fatos.
Fiquei um tempo sem
encarar minhas palavras
Fiquei um tempo sem
saber do que falar
Fiquei um tempo sem
entender o que acontecia
Fiquei um tempo sem
pensar em mim
Me dei um tempo
Esse tempo não foi bom
Eu deixei a vida correr
Eu me enchi de silêncio
Eu me abandonei no
espaço
Eu perdi os risos bobos
durante o dia
Eu não falei sobre o
que vi ou o que vivi
Eu fiquei parado
sentindo solidão
Esse tempo não foi ruim
Nem tudo foram dores
Eu reencontrei minha companhia
Eu tentei fugas fáceis, mas as vi inúteis
Eu fiz as pazes com o silêncio
Tomei conta do tempo
E o tempo retribuiu o favor
Mas isso tudo foi
antes
Agora escrevo
Agora falo
Agora sinto
Só queria mesmo é
escrever esses versos
Recomeçar é preciso
Me reencontrar com as
palavras
Me acertar com o
coração
Isso não é poesia
É um recomeço.
Um esforço para
reabrir as minhas comportas.
O resto será
inundação.
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