Passou. Até que enfim passou. Agora
consigo pensar em você sem me sentir pesado. Na verdade, agora consigo pensar
em você. Antes eu não conseguia. Antes que o meu pensamento chegasse em você,
eu me perdia no abismo de culpa por deixar você ir. Eu me afogava no mar de
frustração. Sufocava no vácuo de nosso silêncio, me perdia na ilusão do não
acontecido. Por isso não te alcançava. Por que minha força era pouca para
romper as barreiras que minha dor egoísta criou. Quando consegui lidar com a
dor, já era possível te ver de longe. De início de muito longe. Eu te olhava
sem que você percebesse. Eu acompanhava teus passos, coletava fragmentos quando
outros falavam teu nome. Meus ouvidos se programaram para se abrirem com a simples
menção da palavra mágica que é teu nome. Depois de um bom tempo me aproximei,
ainda sem chamar tua atenção. Comecei me permitir te acompanhar de perto, te
cumprimentar, te mandar besteiras, rir ao lembrar de coisas boas que passamos,
contar para outros momentos que compartilhamos. Deixei de me sentir mal por
você não estar perto para completar alguma história com os seus detalhes, com a
sua visão. Hoje já posso te olhar de frente,
sem perder a razão no processo e justamente por poder, é que não faço.
Não preciso.
Eu já te procurei demais.
Quando quiser, sabe como me
encontrar. Nunca te neguei uma palavra ou um sorriso. Não será agora que o
farei. Ainda gosto de conversar contigo. Houveram vezes que eu procurei algum
sentido oculto nas tuas palavras escorregadias. Não hoje. Não mais. Não te procuro por que já não preciso fugir de
ti. Passou, demorou mas passou.
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