Por um triz
















Eu tô quase lá. Tô encontrando algo. Faz dias que tenho essa impressão. Sabe quando tu tá perto de algo importante mesmo não sabendo direito o que é? Pois então. É isso. Eu tô muito perto de algo essencial. A cada dia que passa eu me sinto mais perto. Já consigo sentir nas pontas do dedo. Na verdade... eu sei o que é. Mais ou menos. Eu não sei ao certo como definir. Eu tô falando de paz. Não é bem paz, mas é também. Não consigo definir de outra forma então na falta de algo melhor chamarei de paz. Pensando bem... acho que era paz o que me faltava. Não sei que tipo, mas era. Falo isso porque sei que não existe só um tipo. Elas tem especificidades. Particularidades. Cada paz tem cor, cheiro, gosto e textura diferente. Eu tinha algumas comigo para momentos de desespero. Olhando pra trás, eu acho que sempre carrego um pouco de paz na bagagem. Mas a que eu precisava não estava comigo. Então sai procurando. Procurei nas ruas, nos bares, nas festas, nas pessoas, nos amores, nas amizades, no tempo, no vento, na poesia, nas palavras, nos conceitos, em muitos lugares. Eu não achava e em cada lugar que eu procurei, deixei marcas. Nem todas boas, nem todas bonitas, nem todas cruéis, nem todas ásperas. Eu procurando o que que me faltava acabei mudando coisas de lugar. Tanto em mim quanto nos outros. Sei que coisas mudam, mas entende que eu provoquei algumas dessas mudanças? Sabe o que é isso? Deixei gente feliz, deixei gente triste, deixei muito. Perdi muito. Ganhei também, mas ainda não havia ganho a paz que eu precisava. As busca continuaram. De tanto procurar acabei sozinho num canto, numa sala branca com um banheiro. Vazia. Sem nada. Eu cheguei ali e trouxe minha vida e me instalei. Naquele cantinho. Naquele fundo de quintal. No meio da correria do mundo, achei um lugarzinho calmo. Não era paz. Era solidão. Continuei a busca. Corri. Pulei. Mergulhei. Criei. Ouvi. Cantei. Não achei. Afundei. Era um espiral distorcida. Tudo perdia o sentido. O que sempre foi templo sagrado eu via desmoronar. Eu estava na frente do que sempre considerei eterno, infindável, consistente e senti tudo desmanchar, corroer, transformar-se em pó. Não era pó. Era algo que na época eu achei que era pó. No centro desse redemoinho eu me afundava. Eu só queria paz e encontrava o caos. Eu não conseguia mais procurar. Estava exausto e perdido. Quase tive raiva. Quase plantei desespero no meu quintal. Quase, mas não fiz isso. Eu era cansaço. Permaneci onde estava. No fundo de um redemoinho. Numa sala branca. No meio da solidão. Numa inquietude. Sem forças, acabei me escondendo no fundo do meu eu. Estava parado em mim. Foi então que senti algo quente. Eu me olhei. Me senti. Achei um resquício de algo que parecia paz. Um sorriso surgiu. Um daqueles genuínos, sabe? Daqueles que dão sentido para as coisas. Era a minha chance. Quis pegá-la com as duas mãos. Me atirei e senti ela escorrer por entre os dedos. Não foi bom, mas não foi ruim. Naquela hora não tive dúvidas, me desdobrei em mil e comecei a percorrer meus confins. Me conhecer. Me desbravar. Me reconhecer. Eu, ingênuo, percorri o mundo todo antes de adentrar o mundo todo que há em mim. Recomecei a ir atrás da tal paz ou o que for. Não da paz das coisas, mas da paz do ser que sou. Ainda não sei exatamente que paz é essa. Não sei como ela é, nem onde ela está, muito menos onde mora. Mas sei que ela é minha. E isso já diz muito. Eu chamo de paz, pois é o que quero e preciso ou o que acho que quero e que preciso. Tô alcançando. Quase posso tocar. Ainda não encontrei. Tô procurando, mas tá quase quase.

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