O chão que me falta

Não descanso da vigília.
Estou atenta e estou exausta
e não consigo nem chorar.
Nessa rotina em que vivo
quanto mais eu me dedico
mais eu me sinto sufocar

Oh, meu amigo, me convença.
Me diz que tudo passa.
Que as nuvens vão embora.
Que o sorriso um dia volta.
Que um dia tudo melhora,
Não me deixa eu me abandonar.

E me responde meu amigo,
com que forças vou lutar,
se meus punhos,
tão cansados,
tão surrados,
já não cansam de sangrar?

Quanto mais eu insisto,
Mais me sinto desabar.
Nessa escuridão não vejo fim.
Minha força desaparece.
Já não consigo suportar.
Preciso de sol no meu jardim.

Me diz o que eu faço.
O que não digo, me corrói.
O que digo, me consome.
Como posso ver flores
se meus olhos desaguaram?
Hoje mal sou meu nome.

Oh meu amigo, preste atenção.
Nos meus avisos disfarçados.
Sinais tão pequenos e profundos.
Desesperados. Dolorosos. Silenciosos.
Nesse sofá antigo, me sinto cansada.
Hoje só quero um tempo do mundo.

Me fala meu amigo, me mostra
Que essa luta tem sentido,
Que o esforço não é em vão
Quando o mundo for remanso
O meu jardim voltar a ser colorido
Mas é que hoje... Hoje ele não é não.

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