Um caminho feito rio

Ando percorrendo muitos caminhos. Aos poucos vou descobrindo outros lugares. Aos poucos vou conhecendo mais do mundo. Bem aos poucos vou conhecendo mais de mim. Me vejo naquilo que observo. Pessoas. Ruas. Casas. Filmes. Plantas. Cartazes. Me reconheço no mundo ao meu redor. Ou melhor, me descubro ao mergulhar em toda vida que corre ao meu lado. Quanto mais observo mais descubro. De uns tempos para cá, vim descobrindo outros estados. Geográficos, sentimentais, sensoriais, espirituais. Eu sinto que estou perto do algo importante. Parece aqueles momentos em que estamos procurando algo que está diante dos nossos olhos. Como os óculos, antes de você perceber que ele está na sua mão ou mesmo na sua cara. Tenho esse sentimento quando penso no meu agora, no que faço, onde estou, por onde andei. Não quero pensar para onde vou. Esse negócio de futuro já me destruiu algumas vezes. Ainda não consigo fazer planos. Não acho que jamais os farei de novo. Apenas não quero criar esses planos para depois ter que desfazê-los. Na verdade, agora eu estou me deixando levar. Como um barco no meio do rio. Não tenho muitas direções para ir. Não tenho muito o que inventar. Minhas escolhas foram feitas a certo tempo atrás. Não posso ignora-las. Tenho que seguir o fluxo do rio. Tenho que seguir o caminho. Ele tem me trazido surpresas. O caminho. Ele me dá dias de paz. Me trouxe uma calma que há muito eu não tinha. Talvez seja só melancolia, mas não importa. Eu tenho conseguido viver. Um dia depois do outro. No fluxo do rio. No fluxo da vida. No caminho que venho navegando.