Entre caminhadas e respirações

Quando os dias estão calmos, eu sinto como se a vida parasse e tomasse folego para seguir em frente. Como se ela não tivesse um folego muito bom. Parece comigo. Eu gosto de correr, mas não tenho um bom folego. Preciso de ar. Você sabe, eu tenho asma e mesmo assim gosto de correr. Sentir o ar entrando no corpo. Os músculos queimando no esforço digno de levar o corpo a diante. Seguir em frente. De repente, no meio da corrida, surge aquela dor no abdômen. Não sei de onde ela vem, mas aparece. Dói. Perfura. Arde. Como se algo se rasgasse. Como se o corpo implorasse por uma pausa. Dizem que é da respiração. Que se não respirar direito, a dor vem. Olha, não quero falar de corridas, não sei muito sobre elas. Quero falar dos meus dias corridos. Eu não faço caminhadas ou cooper ou coisas do gênero. Geralmente não tenho tempo. Eu to sempre fazendo mil coisas em mil lugares. Assim como você. Talvez isso tenha nos unido. Talvez. Foi isso também que nos separou. Mas correr, eu não corro, não. Por falar em separação... tenho saudades. Toda vez que escuto tua voz num áudio antigo, sinto uma dor. Não sei de onde ela vem, mas aparece e dói. Assim como a dor da corrida. Que comparação estranha, não acha? Faz sentido pra mim. A dor sempre traz verdades. O que importa é que eu to seguindo em frente. Eu sinto o corpo e cabeça queimando no esforço de seguir em frente. Te deixar para trás. Ou te carregar comigo, mas de outro jeito. Escuto tua voz, olho tuas fotos, vejo teus sorrisos e vem a dor. Não no abdômen, mas no peito. Sinto ele se afundando e preciso de ar. Preciso urgentemente de ar. Quero folego. Quero ser preenchido de vida. Quero um vento que me salve. Preciso respirar e seguir em frente. Escrevo urgências na esperança de que me acalme peito e a respiração. Talvez assim eu consiga seguir em frente.  Não sei porque ainda te escrevo se ignora todas as minhas palavras. Você seguiu, com mais folego que eu. Talvez por ser jovem, mais jovem que eu. Parece que estou parado tomando folego. Mas, sabe?! Eu to andando. Mesmo que devagar. Mesmo que aos poucos. Um passo depois do outro. Até que eu tropece na tua voz de novo. Caia. Afunde. Sinta dor. Volto a andar. Respiro. Sigo em frente. 

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