Escritos diários


Ainda escrevo textos para você. Este, por exemplo, é um texto que fala dos textos que escrevo para você. Calma, deixa eu explicar melhor. Você sabe que escrevo por uma necessidade egoísta e de liberdade que há no meu ser. Escrevo por que preciso. Escrevo para tirar de mim as sensações que me tomam o corpo, que me esgotam, me afundam, me transbordam. Eis um exemplo tosco: escrevo por não conversar contigo todo dia. Não se preocupe, não é nada demais. Essa foi só a primeira coisa que veio a minha mente nesse exato momento. Não é como se eu pensasse isso todos os dias quando me sento em frente ao computador. Não, não. Esse pensamento não me ocorre sempre que pego um lápis ou caneta para tramar palavras. Não é todo dia que esse pensamento me acontece. O que me acontece todos os dias é a escrita. Tem vezes que jogo palavras numa tela em branco para tentar tirar as angústias que carrego no peito. Tenho necessidade de dar corpo para minhas vontades, meus medos, meus pensamentos. Eis um dos grandes motivos da minha escrita. Existem outros como escrever para me encontrar. É que tenho em mim essa urgência de tramar frases que tenham algum sentido para que talvez eu obtenha sentido através delas. Também escrevo para perder coisas. Isso mesmo, escrevo para perder. Pode parecer um estranho paradoxo, mas é bem mais do que isso. Perder coisas nem sempre é ruim. Pode trazer leveza. Dessa forma retiro de mim essas palavras para quem sabe tirar de mim alguns sentimentos. Talvez um dia eles, os sentimentos, possam seguir um caminho próprio e abrir espaço para o novo. Isso também trará leveza. Enquanto eles não seguem para longe do meu ser, eu escrevo pra ti. Não, não é bem assim. A verdade é que eu escrevo. Isso é fato inquestionável. Como sua imagem não sai da minha cabeça, acabo sempre escrevendo pra ti, mesmo que o texto fale de qualquer outra coisa menos de você. Posso falar de campos floridos que encontrarei neles o perfume da tua pele. Posso falar da chuva e tempestades que teus olhos trovejarão na minha mente. Posso falar do que já vivi e teus lábios estarão lá marcando o tempo na minha orelha. Posso falar do tempo e da crueldade da vida que teus dedos serão pincéis e minhas costas uma tela em branco. Posso falar do calor das cobertas que teu cabelo se fará presente. Posso falar da infelicidade da vida que a nossa distância estará gravada em cada letra que escrevo. Posso falar de qualquer coisa possível ou impossível que não saberei te tirar de mim. Mesmo que já tenham se passado anos. Mesmo que eu não sei o que se passe na sua cabeça. Mesmo que já não nos falamos como antes. Eu escrevo. Eu escrevo você em cada palavra. Mesmo que você não leia. Esse é o tamanho da minha necessidade. Da escrita e de você.

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