Davi e Heitor - Saudades de Cada Um


A conversa continua naquele bar. Heitor recomeça a fala após algum tempo em silêncio
- Me encanta perceber o quão particular as lembranças são para cada um.
- Perfeito. – um gole de bebida. - Cada determinada situação tem determinada forma de ser lembrada.
- Mas sua saudade não é composta por música?
- Não confunda as coisas meu amigo. A musica pertence as mulheres. Somente a elas. A saudade é outro assunto.
Instigado pelas palavras do amigo, Heitor se ajeita na cadeira e com um sorriso nos lábios pergunta.
- Muito bem, então. Diga-me o que é a saudade para você, caro filósofo de bar? Será que consegue defina-la?
-A saudade é aquilo que acontece ao olhar uma foto antiga guardada dentro do coração. Saudade também é aquilo que dói no peito ao... ao ouvir músicas e lembrar de alguém. Pois já disse o cantor, que “a saudade é prego parafuso, quanto mais aperta, mais difícil arrancar”.
- Sim... faz sentido. Mas ainda não é uma definição, são apenas metáforas ou comparações.
- Deixe de ser tão chato. Assim a poesia se perde. A não ser...  que você, tão inquisidor, tenha uma resposta a altura. Ou melhor, uma definição a altura. – um sorriso aparece na cara de Davi – Vamos Heitor, o que é a saudade pra você?
- Saudade... A saudade é mais que uma palavra. Ela é sentimento dúbio. Geralmente é preenchida de uma nostalgia não racional. A saudade é dor. Ela rasga o peito procurando conforto. Saudade é saber que o que se passou foi intenso e isso agrada cada partícula do corpo. Ao mesmo tempo cada uma dessas partículas sente a dor da falta. Saudade é incompletude do que se passou. De alguém, de um objeto, de um momento, de um lugar, de algo que te fez vivo. – Heitor mergulha num silêncio profundo dentro de si. Parece viajar para outra época de sua vida. Com o olhar um pouco perdido, ele fala:
- Não consigo defini-la bem. Não encontro palavras que a compreendam por completo. Agora sou incapaz de delinear um traço fino para tudo o que a saudade é para mim. Apenas consigo senti-la. Sinto saudades daqueles que não vejo. – Toma um gole de sua bebida e respira fundo.
- Por vezes não há definições, só sentimento.
O silêncio se instaura na mesa. Os pensamentos ecoam até que Davi num rompante ergue o copo e olha o amigo nos olhos.
- Um brinde a isso!

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