Gotículas


Eu gosto do tempo.
Ou melhor, das pequenas partículas de tempo.
Amo o vendaval incontrolável que é o passar das horas.
Amo mais ainda, as pequenas eternidades que se formam em meio à ventania dos dias.
São esses momentos eternizados que me enchem o peito de cores.
Como os sorrisos desenhados nas nossas fotos.
As incontáveis texturas dos inúmeros objetos guardados em caixas de sapato.
Há também os rabiscos gravados em papel. 
Ali naquele baú de papelão velho, encontro bilhetes, papéis, tecidos, coisas e mais coisas.
Essas pequenas eternidades não são nada, mas significam muito para mim.
São signos de certos dias com certas pessoas que despertam certos sentimentos.
Objetos grandes e pequenos, que não passam de cacarecos velhos e inúteis para pessoas comuns.
E que são resquícios de vida das pessoas que me são queridas.
Eles são portais para o passado.
São bastiões daquilo que já aconteceu em nossas vidas.
São esses pequenos e inúteis objetos que me fazem crer na eternidade.
São essas gotas de tempo que bebo para seguir em meio ao vendaval.
Com um sorriso no rosto, uma caixa de sapatos nas mãos, os olhos no horizonte e fragmentos da eternidade no peito.

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