Despedida

Oi pai.

Como tá? Eu to bem. Pelo menos eu acho que to. Olha, desculpa mas não tive como ficar. Não tive como permanecer aqui e eu não to brincando. Faz tempo que não brinco mais. Até imagino tu com essa cabeça dura e antiga se perguntando: “Como assim não brinca? E todos os dias em que rimos juntos? Era mentira?”.

Não, não era.

Do teu lado eu sorria, mas não como um dia eu já tinha sorrido. Com você meu sorriso não era amarelo, não era falso, não era mentira, só não era como eu queria que fosse. Fui feliz, provavelmente o mais feliz que podia ser ao teu lado. Mas tenta entender, aquele não era o meu mais feliz.

Por isso vou embora, por isso eu saio daqui... por isso fujo. Fujo porque tu é meu pai e pra sempre vou te amar. Fujo porque quero te ver feliz, mas também quero ser feliz, o mais feliz que eu puder. E aqui, nessa cidade grande, onde tu vives como o rei que sempre quis ser, eu não posso ser o que quero, não posso ser feliz.

Prefiro a estrada, prefiro os campos, prefiro o mundo. Preciso me encontrar, preciso voar, preciso caminhar, preciso, preciso, preciso e apenas preciso. Preciso tantas coisas, coisas que essa gaiola feita de concreto e pessoas cinzas não pode me dar, coisas que você não pode comprar ou construir, coisas que quero viver.

Vou sentir falta dos teus abraços fortes, das tuas cócegas (tão fortes quanto os abraços) que doíam as minhas costelas, do teu amor bruto e sem jeito, da simplicidade que percorria teus gestos, mesmo os egoístas e insensíveis. Eu te admiro muito, por sempre ser sincero contigo. Agora chegou a hora em que eu sigo o mesmo caminho. Serei sincero comigo, com meu coração.

Não digo adeus porque eu ainda volto. O problema é que não sei quando.

Quer dizer... para mim isso não é um problema, é uma dádiva...



Até mais. 

Comentários

  1. Porque passarinho voa, bica, bate e canta. Mas no passinho miúdo, passarinho também sonha. Sonha em ser girafa e ver uma nuvem passar fazendo cócegas na orelha. É prolixo o sonho do passarinho, mas passarinho é paciente, e é pairando que deixa o passado pendente e caminha contente no chão de folhas.

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