E lá estava ele sentado no banco
da praça com uma flor nas mãos, um nervosismo nos lábios, uma esperança nos
olhos, uma vontade presa na garganta. Bernardo olhava para os lados e repassava
as palavras decoradas, os elogios programados, tudo perfeitamente alocado nas
frases construídas durante horas antes de dormir. Como era possível dormir
diante da beleza dela? Todos os detalhes recriados por sua imaginação, por seus
desejos e pela distância que seria reduzida naquela praça, daqui a poucos
minutos. Minutos que se estenderam, que pareciam horas e aos poucos se tornaram
horas enquanto ele repassava tudo o que havia decorado.
Repassava e esperava. E esperava.
E esperava e esperou até não ter mais o que esperar.
Esperou mais do que devia, mais
que do que qualquer um esperaria, pois já não estava ali por anseio de vê-la,
estava ali por não querer voltar para casa, por não entender o motivo de aquilo
ter acontecido, ou melhor no que não havia acontecido, por não entender o que tinha
dado de errado, por não conseguir assimilar todos os detalhes, por não
acreditar, por não querer acreditar.
Voltou pra casa e no caminho as
palavras decoradas feriam Bernardo por ele não conseguir esquecê-las, por não
terem sido pronunciadas, por permanecerem vivas e tristes dentro do peito. E
chegou ao seu refúgio domiciliar procurando pelo caminho qualquer sinal dela e
nada encontrou. Olhou espelho de seu quarto e num impulso melancólico falou
tudo o que queria falar e também o que queria ouvir e depois do desabafo em
meio a lágrimas e sorrisos de molhados ouviu de sua própria boca o que não
queria escutar.
- A solidão dói menos quando a
esperança não está presente.
Acho provável que depois de ter ouvido de sí o que não queria, Bernardo tenha conseguido seguir mais leve, livre das palavras que queria dizer e dos sentimentos entalados com elas.
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