Ser um príncipe jardineiro

Por tanto tempo quis a ter a flor mais bela de todas.

Os ventos da sorte me lançaram uma semente.

A semente era jovem e bonita.

Plantei-a na terra e me dediquei ao delicado trabalho de cuidar do meu sonho e daquele início de flor.

Da água, da terra, do sol, do carinho, do cuidado, do tempo e de tudo mais, desabrochou o que eu tanto quis.

A semente se transformou aos poucos.

Todos os dias eu aprendia um pouco mais de como proteger, de como cultivar, de como cativar aquela flor.

Sabia que para isso teria que ser um bom jardineiro, mas minhas mãos eram duras e brutas e descuidadas e as dificuldades era muitas.

Me dedicava e procurava fazer tudo para não deixá-la  morrer, não ver desaparecer o que já havia florescido,  não dar a morte para o que me era querido.

Apesar de tudo, não conseguia cultivar a minha flor do jeito que eu queria.

Nem do jeito que ela queria.

Ela sofria por eu não saber conseguir ser um bom jardineiro.

Da flor, tantas vezes só percebia o orvalho triste escorrendo por suas pétalas.

Por muitas vezes eu quis seguir uma viagem para além das estrelas.

Viajar e conhecer e aprender e entender.

Deixá-la sem meus maus tratos inocentes.

Meus deslizes descuidados.

Minha proteção desastrada.

Porém minha flor ainda precisa de cuidados

Precisa das minhas mãos

E mais do que isso,

Eu ainda preciso de minha flor.

Preciso daquela flor e de nenhuma outra.

Com aquelas pétalas, com aqueles espinhos

Com aquela beleza, com aquele carinho.

Por que nem os machucados

Ou mesmo a dor

É capaz de secar o orvalho de meus olhos 

ou diminuir o calor do meu peito 

Ao vê-la sorrir...