Certa vez, numa praça qualquer, numa hora qualquer, um certo Arlequim fala aos quatro ventos em frente ao mais antigo pilar daquela praça.
A minha diversão é encher de graça,
Os que aqui estão! Até desgastar a calça
Que uso todo dia. E todo dia uso
A minha graça com muito abuso.
Tento levar a todos os semblantes e todas as faces
Sorrisos bobos, que não causem desenlaces
Ou choro repentino, ou lágrima salgada
Ou rosto molhado, ou face borrada.
Me dá gosto ver como gosto
Dessa alegria no rosto
Daqueles que amo
Daqueles que sempre chamo
Para mais perto do meu coração.
Sem culpa e sem perdão
Não desisto de mantê-los perto.
Sem me importar se é certo
Ou errado, ou estranho, ou egoísta
Ter ao meu lado, um grande malabarista
De emoções e de tudo que há nesse mundo.
Quero um bom amigo, sendo ele um vagabundo,
Um apaixonado ou um exímio trabalhador.
Mas não precisarei de outro, se tu Pierrot,
For aquele que aceitar este fado
De caminhar por longos caminhos ao meu lado.
Nos conhecemos a um bom tempo
De pouco a pouco, como um leve passatempo
Nos aproximamos e brincamos felizes.
Será essa a razão para tantos matizes
Em nossas preciosas vidas?
Seria ofensa não falar de nossas idas
E vindas neste circo gigante
Em quem somos tolos amantes
Da boa arte e dos bons amores
Que chegam até nós com intensos ardores.
Também quero declamar
E bradar forte para o ar
O que sinto por essa linda menina
Que tem o poder e a graça feminina
De gravar em meu coração com precisão assassina
O seu delicado nome, ah essa é a minha adorada Colombina!
Que me encontrou um travesso
E suportou desde o começo
Uma estranha demonstração
De amor e dedicada adoração
Um pouco diferente do normal
Mas que nunca quis lhe fazer mal.
Pelo contrário, sempre procurei
Te dar sorrisos e como um rei
Decretei para mim que te serviria
Somente com as mais doces alegrias.
Após esse pequeno discurso e sem mais nada a dizer
Deixo minhas palavras para qualquer um ver.
Coloco neste firme, forte e antigo pilar
Uma carta com o que acabo de falar.
Para que parem e possam ler
E então por fim perceber
Que feliz é todo aquele que se permite e se deixa amar
E não nega o amor para aqueles que do seu lado querem estar.
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