Naufrago Navegador - Quinta Carta

Tanto tempo passou e nenhum escrito veio de nosso navegador perdido. Não é porque eles não foram encontrados e expostos que eles não são mais postos em papeis, ou pelo menos desenhados na mente. As palavras estão todas no ar, talvez não foram organizadas, talvez não encontraram sua ordem, talvez ele não esteja em ordem... Mas sempre se encontra algum registro espalhado na água... Na água, uma garrafa. Na garrafa, um papel. No papel, estas palavras:

“As marés se tornaram conturbadas. O balanço das ondas não me deixa retratar tudo o que acontecia nesta viagem longa. Já passei por tantos infortúnios, tantos achados, tantas alegrias, tantas descobertas que não caberiam nesta carta tudo o que quero falar. Agora não quero falar do novo rumo que estou navegando, nem das histórias dos outros que senti no corpo, muito menos das conturbações que o sono me traz, quero agora falar do que me acompanhou por tanto tempo e o que entendi.
Tantos anos navegando e tantos anos companheiro da solidão. Desta solidão que não é ruim, é apenas uma companheira de viagem. Ela me ensinou tanto e tanto me fez sofrer e tanto me fez entender. A solidão é liberdade. A solidão é a ausência de tudo o que os outros podem nos dar, seja bom ou ruim. A solidão traz o medo de não ter ninguém. A solidão pode levar além desse medo, pode levar até a importância de ser o que realmente se quer ser. Sem ter ninguém observando. Sem ter ninguém julgando. De ser julgado somente por si e então redescobrir a vida que só pode ser vivida por quem não teme os outros, nem teme o que há na solidão. Por que quem enfrenta a solidão sabe que ela não existe. Por que quem desvenda a solidão, desvenda a si mesmo...
É como estar no alto de um precipício em que se vê somente dois caminhos: pular ou permanecer... Aquele que entende a solidão vê além. Percebe a extensão do que se pode, que além de cair ou então ficar, você pode voar...
Ou então, navegar...”

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