Sétima Parábola - Reflexões de si



“O que sou?” pergunta o menino para o lago a sua frente. A noite é clara, a lua resplandece no céu. O menino na beira de um lago olha para o horizonte e não espera resposta. Sabe que aquele tranqüilo lago nada tem a dizer, pois águas paradas não falam, não sussurram, não conduzem pensamentos. 

“Por que sou assim? O que me fez assim?” Seu tormento é grande, sua preocupação é latejante dentro de si. Essas perguntas ganham a forma de um espinho e ele parece percorrer o corpo esguio do jovem. Perfurando e tentando fazer o sangue verter, invisível aos olhos, real para o menino. No caminho que fez até aqui, o menino poderia ter perguntado aos seus companheiros esta simples e complexa questão, mas sabia que por mais que ouvisse, ele só entenderia a resposta que ele próprio encontrasse. 

“Por que é tão difícil de me aceitar do jeito que sou? Será que preciso ser como os outros, sentir as mesmas coisas na mesma intensidade, nos mesmos moldes? Será que meus olhos precisam ver o que todos vêem? Será que meu coração precisa sentir o que todos sentem? Não consigo me entender... não consigo entender os outros... Não consigo entender...” E segue assim divagando, e segue assim olhando para o horizonte, e segue assim falando alto. Recolhe suas perguntas e devagar lágrimas rumam para o chão. E segue em sua interminável questão, e segue esperando a inimaginável resposta, e segue com incontáveis lágrimas, e segue em uma indescritível ausência de palavras, e segue. Apenas segue...

Após as lágrimas pararem, após os olhos clarearem, após a resposta não vir, após a pergunta continuar e após o vento soprar, o menino escuta a solidão do silêncio e pergunta uma ultima vez para si mesmo, já sem esperar uma resposta. E finalmente o lago, tão pacientemente lhe ensina o que precisa aprender. Naquela noite de lua clara, o silencioso lago reflete tudo o que o menino precisa ver, e sem dizer uma palavra, o menino entende tudo o que precisa naquele momento.  Entende que ele não é nada mais do que ele mesmo. Com todos os seus defeitos, com todas as suas alegrias, com cada um de seus desejos, com cada um de seus anseios, com todo o seu jeito, e entende que mesmo sendo assim, ele não é imutável, que uma lágrima que caia no lago pode fazê-lo mudar e mesmo mudando ele ainda será ele. 

Ainda não sorri, ainda não entende por completo o que o cerca, nem aqueles que o cercam, não se entende por completo, e apesar da cética razão não conseguir entender, o fervoroso coração já começa aceitar-se...

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