Naúfrago Navegador: Quarta Carta


Outra garrafa foi encontrada numa água qualquer... Não sei se foi num rio, num mar ou num lago. Mas isso realmente não importa. Aqui está o que o bilhete diz:

“Hoje acordei onde queria acordar, mas não sei se aqui posso permanecer... Há uma ilha que já visitei no passado. Naquele tempo ela era linda, desconhecida e somente minha... Não havia ninguém ali para me fazer companhia, aquelas terras eram somente minhas. E aquela ilha eu apreciei. Vi nas suas árvores, no seu chão, em toda fauna e flora que continha em si, um lindo motivo para sorrir. Queria ficar ali pra sempre. Não... talvez não pra sempre, mas queria aproveitar a minha estadia em suas terras calmas, queria que fosse magnífico enquanto durasse. Mas o tempo passou e o clima mudou, já não era possível continuar no meu pequeno paraíso. Aos prantos, reformei e reforcei o meu barco, firmei minha vela e me lancei novamente ao mar. Segui correntezas diversas, procurando um lugar tão aconchegante quanto o que acabará de deixar...
Sem dúvida que encontrei outros portos, outras faunas, outras pessoas, outras vidas.
Ontem, uma tempestade me atingiu e meio perdido procurei repouso. Sem me dar conta voltei para a praia que há muito tempo atrás havia abandonado. Meu coração pulou de felicidade. A tempestade ainda estava sobre minha cabeça, mas agora estava repousando na minha salvação. E todas as minhas apostas foram feitas na esperança de ali permanecer, de morar naquelas terras paradisíacas, de voltar a viver no meu pequeno paraíso secreto...
Aos poucos percebi que o tempo tinha modificado aquelas areias, que mesmo sendo as mesmas já não eram iguais. Que aquilo que eu amava, talvez já não existisse. Que por mais que eu quisesse aquele descanso, talvez já não estivesse apto ali permanecer...
Mas quero aqui morar e quero agora. Quero deixar meu coração descansar desses ventos que me acompanham, dessa chuva que não me deixa tranqüilo, desses raios que me incomodam o espírito. Mas não sei se ali posso permanecer, pois não conheço mais aquelas terras. Não quero destruir o que tanto amei. Prefiro então me jogar a tempestade e deixar meu corpo sobre as mazelas da sorte, pois talvez a tempestade seja melhor do que a destruição do que guardei do meu pequeno paraíso. Então prefiro abandonar agora que ainda estou na praia e não adentrei para o interior e não tenho idéia do que mudou nela. Agora, aqui estou. Olhando para o mar, sentindo a tempestade enlouquecer o mar. Tenho as areias que procuro entre meus pés, mas agora acredito que não há tempo para descanso, apenas recupero o fôlego para novamente enfrentar as ondas que se encontram na minha frente.”

Comentários

Postar um comentário