Marcas do Mundo


Tanta dor...


Transformo-me em uma pulsação de sentimentos. Todos transcorrem meu corpo de maneira tão intensa que não consigo conter os espasmos. Meu peito congela ao ser possuído por essa onda que invade e inunda e molha e marca e gela e dói. Dor de tamanha intensidade que minha existência corre o risco de se perder. Minha base forte começa a se esfarelar a cada onda que a atinge, que a consome, que a transforma em poeira fina e leve, que se perde em um emaranhado de pensamentos, que se torna minha confusão, que dá mais força a essa onda que fere a minha base.

Tanta tristeza...

Sou sugado para o vácuo do tempo e espaço. Encontro-me no limbo, perdido entre tudo o que eu sempre quis e aquilo o que nunca vou ter. Com o olhar vago como a escuridão, com a voz melancólica como um piano sem cordas, com a respiração pesada como a morte, fico estático criando versos desconexos numa ilha de sombras intocáveis e imateriais. No rádio uma música me leva a beira de um copo de whisky e no alto de minha insensatez me atiro ao chão líquido daquela bebida amarga. Meu esquecimento é vendido em doses, minha tranqüilidade é o ardor na garganta, meu mundo é viscoso e vulgar pedindo um próximo copo.

Tanta raiva...

Um vulcão surge do âmago da alma. Sua erupção é imediata e ininterrupta. São despejos de males causados, de revoltas tempestuosas, de dores sofridas, de angústias lapidadas, de amargos na boca, de sono perdido, de seres nojentos, de vida maldita. Aquela lava pútrida e putrefeita é jogada aos céus. E cai no corpo. E escorre na pele. E traz à tona a chama negra do mundo, que queima a poesia e a inocência... Que deturpa a razão, que faz a alma se perder na terra dos olhos sem esperança, que traz confusão, que sem pesar transforma o homem num terreno vazio de vida e completo de escórias.

Tanta desesperança...

Na escuridão me sinto em casa. Numa casa em que nada é meu, nada é de ninguém pois não há nada para se ter, nada para se tirar. E ao colocar alguma coisa, nada acontece, nada muda. Pois na escuridão, nada tem importância, apenas o vazio. Na escuridão encontro o mundo assim como ele é. Sem aqueles floreios das cores. Sem aquelas emoções do momento. Sem a alegria da vida, apenas a sobriedade da escuridão, do toque frio, do mundo negro e vazio de ninguém... Apenas meu estranho pensar nessa imensidão de nada. Essa estranha escuridão que me chama e me mata aos poucos e me transforma em mais escuridão.

Tanta hipocrisia...

E atrás da máscara, me protejo dos olhos quem tem sede de inveja, que tem veneno nas lágrimas, que tem maldade na íris. Está máscara me faz tolerar as presenças asquerosas que tentam me ferir com seu respirar pesado e incomodo, que tentam me fazer de joguete, que tentam me corromper. Com minha máscara suporto e convivo com os monstros que desprezo, com aqueles que mentem, que fingem, que deturpam, que estragam o mundo. A máscara que uso, por não querer ser como eles, me torna um deles...



No fim, as lágrimas me ferem o rosto por serem puras demais.

Comentários

  1. Mooor,

    to com o cuore apertado qui por ler isso.

    Forte demais!
    Extremamente intenso.

    Espero que seja fictício.

    Beijão

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  2. Seres humanos.
    Demasiadamente humanos.
    Maldita condição bastarda que sempre me faz querer.


    fix

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