Quarta Parábola: O Menino e a Princesa



Certo dia, no alto de uma colina ocorre uma conversa inesperada entre o menino de cabelos revoltos e olhar inquieto e uma jovem princesa de longos cabelos de fogo. O sol brilha intensamente e o dia transcorre tranqüilo. O vento faz a grama dançar. Da colina se vê um vilarejo ao longe. Ali tudo parece paz, menos algo que não se vê e que está tão perto. Um coração está sofrendo. Após um suspiro profundo, do fundo da princesa surge um desabafo. Então surge uma conversa sincera e rara entre dois corações.

A princesa diz “O reino de onde vim perdeu seu maior herói. Seus habitantes estão sofrendo e estão perdidos. Às vezes brigam entre si. Às vezes não são o povo unido que aquele grande homem defendeu. Hoje sigo para rumos distantes e não posso mais mediar ou conduzir meu povo para onde o herói queria. Meus rumos são incertos, pois desejo cumprir o desejo que aquele herói semeou em mim. Por ele e por mim, eu sigo. Sofro por não ter meu povo ao meu lado, sorrio por estar no rumo certo, sofro por ter perdido o inspirador de minha vida, sorrio por estar redescobrindo aos poucos o belo da vida.”

Com a surpresa daquele relato, o menino lhe presenteia com um sorriso e diz “Sua beleza é sublime, seu riso é sincero, sua companhia é agradável, seu encanto é natural. E isso tudo acaba de perder a importância. Pois agora te vejo de outra maneira. Vejo o que nem todos podem ver. Vejo que teu coração é forte, que tua determinação é admirável, que teus sonhos são puros e que teu sofrimento não é fardo fácil. Sempre que quiser brincar e sorrir e tentar esquecer de suas preocupações, nem que seja por alguns instantes, estarei aqui.” Uma amizade se estabeleceu entre laços de alegrias e desabafos de vidas.

Naquela tarde, o menino percebeu que qualquer encanto pode ser quebrado, que um herói pode morrer, que um reino pode se desmanchar, que um sorriso pode estar mentindo, que um coração puro pode sofrer, que uma princesa pode carregar a dor de um escravo e que mesmo com tudo isso a felicidade e a esperança podem florescer nos mais inóspitos quintais.

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