Mitos Internos


O imenso céu negro parecia ter sido retirado de Atlas, o titã enclausurado, e colocado em minhas costas. Assim podia sentir todo o frio do espaço no meu dorso nu, e a ausência do calor estelar na minha face pálida e a fragilidade e a maldade dos homens num lugar infrutífero da minha mente.
Quanto mais absorvia aquele ar estranho e de raro efeito, mais ele parecia se afastar de mim. Meu corpo transbordava esforço e suor gélido. O vazio e o silêncio do infinito alimentavam um monstro dentro de mim.
Aquela quimera me destruía e a cada segundo seguia cortando minha razão, turvando meus instintos, distorcendo meus pensamentos e se reproduzindo. Num bailar erótico e cruel se reproduzia, criava mais e mais monstros que juntos me devoravam por dentro, me sugavam as forças, me destroçavam o espectro suave da realidade.
Faziam minha carcaça miserável querer os portões do Hades, buscando os jardins do Elísio. Querer a paz que reina naqueles jardins sagrados. Então Apolo me abençoa com um lampejo de claridade e me mostra o cão medonho que terei que enfrentar para lá chegar, mostra a maldição e a desgraça que darei aos que sobre Gaia andam e que abençoados por Afrodite me amam e me querem bem.
Os trovões de Zeus ressoam dentro de mim, uma luta digna de Ares se dá entre minhas duas vontades, entre meus anseios, entre minhas angústias, entre meus desejos...
E ao procurar uma saída deste labirinto, temendo o monstro humano e taurino que me persegue, encontro a razão de Atena e com ela a caixa que contém minha ultima arma. Aquela caixa que se encontra aberta e que me atinge com suas pragas e suas malícias e que dela eu retiro o que preciso... Minha maldição e minha benção. Retiro a esperança do fundo do recipiente de Pandora e a deposito em meu peito, assim vejo no mundo mortal e em tudo que nele habita o esplendor daqueles campos que quero chegar...

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