Inimigo Sutil


Olhando o relógio percebo o tempo em toda a sua extensão devastadora.
Percebo como aqueles ponteiros são covardes e sorrateiros.
Noto que sem esforço somos arrasados pelo correr do inexorável inimigo de todos.
Que no momento em que menos se espera restam somente saudades e lembranças.
Este maldito nos tira a juventude e nos dá experiência.
Ele modifica, altera, fortalece, destrói.
E quando num dia qualquer pensarmos na vida,
Olharemos sem compromisso para o espelho e nos veremos mais velhos.
Abismados e confusos perguntaremos como tudo isso aconteceu ou
Quando deixamos de ser criança, ou quando deixamos de notar o tempo.
E se num dia qualquer, olharmos para as fotos abarrotadas de rostos risonhos,
Com todos aqueles conhecidos que já não conhecemos,
Teremos a certeza de que vivemos e de que fomos felizes...
Por certo, não todo o tempo, mas o tempo necessário para ser perfeito.
Veremos como foi bom viver tudo o que vivemos.
E num dia qualquer, perceberemos que o raio do relógio,
Mesmo imóvel, continua rodando
E expondo no corpo e na alma as marcas de sua monstruosa passagem.
Sentiremos que todos os erros e acertos ficaram para trás
E que não podemos nos prender neles a vida toda.
Saberemos que entre o nascer e o pôr-do-sol,
Erramos e acertamos incontáveis vezes,
E que nada disso faz sentido se não for divido com alguém.
E no fim, antes dos olhos fecharem,
Lembraremos das fotos velhas com rostos felizes
Que estão agora num canto empoeirado, cheio de saudades e de vida vivida,
E isto bastará para que possamos superar o tempo e seu maldito desfecho implacável...

Comentários

Postar um comentário