Terceira Parábola - Reencontros e Essências

Um menino que a muito pensava na vida, no universo e em tudo mais, decidiu andar pelo mundo. Sai em uma viagem a procura de si mesmo. Sai para tentar encontrar o mundo e tudo que nele há. Deixa o lugar onde viveu tanto tempo, sabendo certo o rumo que irá tomar. Então ele rumou e rumou até chegar a uma floresta de tantas cores, tanta vida, tanta alegria e tanta novidade. Soube que ali encontraria muito do que procuravam. Após desbravar um pouco essa nova mata, nasceu nele o desejo e a necessidade de rever sua antiga morada. Iria lá para rever os conhecidos e acalmar a saudade do coração. O menino volta e vai ter com os seus.

Depois de visitar grande parte de seus amados, ele vai até a Coruja. A deixa por ultimo, não por acaso. A deixa por ultimo pois é com ela que quer conversar com mais afinco. Chegando até sua toca, senta-se e a observa. Deixa os olhos matarem a saudade. Então conversam e conversam. O menino, a cada palavra da Coruja, sente no peito uma pontada de tristeza. Ambos sabem do futuro. A coruja olha o céu e fixa o olhar no horizonte. “Vejo e prevejo pequenos fatos do futuro... Vejo o Búfalo indo ao longe até o pasto desejado, até os campos que seu desejo forma. Vejo a Raposa se afundando em tudo o que sempre quis. Os exageros dela talvez a prejudiquem, mas no fundo é esse o caminho dela ou o caminho que ela escolheu. Sei do Texugo, que ruma certeiro para o caminho que é dele, caminho que está claro como o dia. Sei de outros que você visitou e que remontam uma amizade antiga. Vejo você correndo para onde seu coração tenta se completar. Você que conversa, que procura, que aconselha, que vive atrás do que quer. Isso me alegra” Pequena pausa. Uma respiração profunda e uma continuação.

“Vejo meus afazeres me consumindo. Não por necessidade, mas por escolha. Tudo que faço, faço com força. Com a força de minha vontade, com a força de meu coração. Procuro conhecimentos, procuro companhia, procuro viver tudo o que posso. Mas ainda assim, sinto meu coração... Sinto minhas penas... Sinto o futuro se aproximando.” O menino percebe que a Coruja sofre pelo presente e pelo futuro. Sofre por ter que ficar. Sofre por saber que sua hora de partir ainda não chegou, mas que ela chegará. Sofre pela solidão que virá junto com o futuro. “Não penses que estarei sozinho.” Fala rápido a Coruja. “Apenas estarei sem aqueles que estiveram tanto tempo ao meu lado e isso faz minha alma ficar perturbada.” “Acalma-te. Essa dor não é só tua.” Juntando todas as forças o menino segura nos olhos a tristeza da sua alma. Segura firme e não a deixa sair.

O menino procura todos que pode, mas não todos que quer. Tantas festas, tantas alegrias, tantas emoções em tão pouco tempo. Todos disseram que o sorriso do menino é mais doce e mais feliz agora que ele realmente está no caminho certo. Não sabem que não é só por estar no rumo desejado. O sorriso dele é assim, pois os reencontros, serviram para fortalecer ainda mais o sentimento que nutria. Esses reencontros fazem o coração saltar de felicidade. O menino sabe que com eles, sua alma estará completa.

Na volta para a nova morada, o menino olha para trás e os vê de longe e fala para si mesmo. “Por mais que ande, por mais que veja, por mais que mude... Carregarei vocês sempre comigo. Nossas alegrias, nossas brincadeiras, nossas discussões, nosso tempo juntos. Por que vocês há muito tempo deixaram de ser meus amigos... São parte de mim, de minha essência.” O que mais alegra o menino é saber que isso é mútuo e inestimável...