Alma de todos os homens


Ele entrou ansioso, desesperado e contente por finalmente eu ter começado a atender. Aquele homem de porte médio, cabelos castanho, curtos e revoltados, que pareciam refletir o que ele sentia, davam um ar jovial a ele. Eu via seus olhos cor de mel, clamarem pela minha presença. Abriu a porta de meu quarto de puta e com movimentos precisos deixou a pasta no armarinho no canto da sala. Ele sabia exatamente o que fazer, afinal já freqüentava meu quarto a mais de ano. Só recentemente descobrirá o real prazer de minha presença. Só agora mostrei minha melhor face a ele. Os olhos me procuravam desesperados, a vontade de me ter era grande. Me acharam perto da janela.
Estava eu de camisola, cabelo preso, cigarro na boca, maquiagem na cara, seios amostra, rosto sereno. Desviei o olhar dele, voltei a observar o mundo pela janela. Me fiz de difícil. Afinal sou mulher da vida, e preciso me valorizar. Eu sei o quanto valho. Ele também. Por isso me procurou às dezenove horas, quando abro a porta do quarto para os serviços da noite. Esse é Isidoro, meu cliente mais fiel. Quando me queria, era sempre o primeiro a chegar. Ás vezes até esperava no corredor do Bordel. Sabe que sou pontual.
- Já tão cedo, meu querido? – Disse displicentemente fechando a camisola.
- Hoje precisava de você. Seus serviços, seus cuidados. – Respondeu afrouxando a gravata.
Voltei meus olhos a sua direção e falei calmamente.
- Então vamos ao que interessa. Deite-se.
Ele já estava descalço e pronto a se atirar em meio aos lençóis. Ambos sabíamos que eu não precisava ter dito aquelas palavras. Ele deitaria de qualquer jeito. Parecia excitadíssimo. Hoje ia ser uma noite daquelas.
Apaguei o cigarro. Fui até ele. Beijei-lhe a face. Sentei-me na poltrona. Acendi outro Calton e quebrei o silêncio que se instalará nesse meio tempo.
- Vamos, fique a vontade. Já te vi como veio ao mundo.
Não precisei falar duas vezes. Ficou nu antes que acabasse a ultima frase. Homens, sempre serão homens. Aqui ou na China... No final todos querem alguém experimentada como eu.
- Então meu bem, comecemos o serviço, que aqui mais que lá fora, o tempo custa dinheiro.
- Mas assim, de uma vez só?
- Claro. Você paga bem, mas não é o único querendo meus serviços.
- Mas... Pensei que haveria algo antes.
- Como o que? Você vem aqui toda a semana a mais de um ano e ainda não se acostumou com isso? Está na hora de crescer, meu bem
- Mas uma preparação sempre é bom.
Esse é Isidoro, meu cliente mais fiel. E o mais inseguro também. Ah, mas um dia ainda pego ele de jeito e o transformo em um homem de verdade. Mas um dia não é hoje, então me rendo ao seu pedido.
- Vinho ou Whisky? – Pergunto sabendo a resposta.
- Whisky. Sem gelo.
- Nossa, então o dia realmente promete. – Ele nunca pede isso. Afinal não bebe faz mais de cinco anos. O sirvo e sento novamente na poltrona.
- Então... Podemos começar? – Me sento cruzando as pernas e deixando minha coxa exposta.
- Claro... – Ele vira o Whisky e começamos com o que interessa. – Ai Alma... – diz ele com voz abatida. - Eu briguei com minha mulher. Hoje foi o estopim... – E se passam uma hora e meia de reclamações e desavenças e conselhos de minha parte. Depois de tanto ouvir, o dispenso com um sorriso nos lábios.
- Lembre-se, mulheres querem o carinho e as vezes algo material, como jóias, chega a ser uma boa demonstração de carinho. – Adoro o Isidoro, meu cliente mais fiel, mas ainda continua o mesmo mão-de-vaca de sempre. Nunca deixa gorjeta, mas comparece sempre que precisa.
Com ele fora da sala, sento-me tranquilamente e penso na vida. Tento pensar na minha, não na dos outros. Às vezes faz bem analisar a própria vida, mas hoje não tenho tempo. Alberto já entra na sala. Todos me desejam. Todos querem um conselho de uma Alma. Este é o meu trabalho, por isso os homens vêm até mim. Por que sou Alma, por que sou puta, por que digo o que precisam ouvir, por que ouço o que eles tem a dizer, por que assim ganho minha vida e às vezes até faço sexo para relaxar a mente e exercitar o corpo...

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