Parábola: A raposa e o que fica para trás


A lua estava alta, o menino perdido em pensamentos e assustado e o Texugo caminhava confiante e sorria. Na noite escura, ele foi o guia do menino. Foi mais que isso, ele o protegia dos perigos, o animava e o que era mais importante, lhe dava esperanças quando o topo parecia distante demais. Pois o menino agora estava mergulhado nas palavras que o Búfalo, a Salamandra e o Passarinho. Elas retumbavam no seu íntimo, lhe faziam pensar, pois pareciam querer dizer algo e ele não entendia o que era. Já não sabia o que pensar, o que perguntar ao sábio, o que falar aos seus amigos, não sabia o porque caminhar, apenas ia, seguia o Texugo e isso não bastava. Ele precisa caminhar e saber o por que caminhava.
Assim aos trancos seguiam os viajantes pela trilha, até que tomado pelo cansaço interior e exterior o menino parou. Uma raposa negra surgiu e acomodou-se ao lado do menino.
- Boa noite, velho amigo. Vejo que cada dia faz mais conhecidos. - e olhava para o Texugo enquanto falava.
- Sim, amiga Raposa. Vou andando e fazendo amigos. Esse é o Texugo. Ele me guia pela noite escura e me leva para o topo da montanha
- Olá Raposa. - fala timidamente o Texugo.
- Por obséquio, poderia nos daria licença? Quero ter um instante de conversa com o menino.
- Voltarei daqui a pouco.
- Não se preocupe, eu cuidarei de meu velho amigo.
Após o Texugo sair, a raposa observa o menino e fala.
- Realmente faz tempo que não nos vemos...
Outro breve silêncio. Antes que o menino conseguisse falar algo, a raposa continuou.
- Não quero ser um incomodo. Mas, velho amigo, esse caminho está te fazendo mal. Tu olhas só para o futuro, e deixa teu presente escorrer por entre os dedos.
- Mas quero muito subir a montanha. Agora mais do que nunca preciso falar com o velho, ele vai me ajudar a me encontrar. Estou perdido. Tenho problemas que só lá poderei resolver.
- Tem tanta certeza disso? Velho amigo... - silêncio. Um longo silêncio - Os problemas estão nos olhos de quem vê e dificilmente a resposta está no outro. Então se essa é tua escolha, segue ela. Só cuide com o que fica para trás.
Após dizer isso. A Raposa se ergue e dá alguns passos em direção a mata. Para. Olha para trás e fala:
- Boa noite.
- Boa noite. - responde o menino. Inquieto ele estranhou ela não falar o costumeiro velho amigo na despedida. Agora o menino tem mais ainda o que pensar.

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