No fim


No mundo onde tudo era confuso e errado, a certeza de estar perdido é a constante que o faz estar estranhamente equilibrado entre o real e o abstrato.
O tempo passa tranquilamente, como um estranho ao lado. Ele sente passar e sorri. Um riso nervoso e, quase desequilibrado de quem tem tudo e nada a perder.
Para ele, o apocalipse chegava milhões de vezes. Tudo sempre ruía, e ele sempre começava do zero.
Com as idéias no lugar, e o coração inquieto, ele se erguia.
Agora a louca sensação de estar tudo perdido e ao mesmo tempo tudo encaminhado, o faz tomar medidas desesperadas. Cada vez mais o relógio acelera o passo e acompanha o ritmo frenético de seu coração.
Tudo tão confuso, tantos sentimentos, tanta pressão imposta por ele mesmo... Decide seguir o vento que o leva aos mais distantes cantos de sua alma. Do mais tempestuoso instante de tormenta ao mais tranqüilo nascer de uma delicada flor de pétalas brancas regadas por lágrimas que teimam em escorrer ocultamente de sua face.
É nas terras inóspitas de sua alma que finalmente encontra repouso e descanso das insanas idéias que sua mente, marcada pela loucura e pela lucidez, insiste em formar. E mesmo lá, algo o perturba.
É o leve passo de alguém. Aquela imagem que o persegue a cada fim do mundo. A cada apocalipse ela vem com um rosto e um corpo diferente, mas é sempre a mesma. O mesmo vestido de um branco impecável, a aura de ternura e esperança que a envolve, o brilho que cega os olhos... não há como negar. Ela é o arauto do fim, da próxima queda, do próximo fogo.
Apocalipse.
Os seus olhos, já acostumados com a luz, vêem o rosto angelical em sua frente. Prepara o corpo para o fogo. Mas ele não vem....
É diferente.
Ele não sente as entranhas queimando na dor. O que ele sente é um toque na face e um calor no peito, que não o machuca, o fortalece. Daquela sensação já conhecida, mas nunca correspondida, surge o medo. É diferente...
Talvez a paz seja realmente alcançada.... Talvez algo mais seja alcançado...
Ainda há esperança.

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